Parecia véspera de decisão nos tempos em que o Flamengo treinava na Gávea. Mas só parecia. Diante da má fase do futebol, faltou torcida, mas sobraram dirigentes, candidatos a presidente do clube e um fluxo de diversas correntes políticas num corredor de cerca de cinco metros que liga o vestiário ao campo. O time está em baixa, mas a política segue em fogo alto. O treino de sábado, um dia antes da partida contra o Grêmio, foi marcado por cenas pitorescas e certo ar de constrangimento.
Com a manhã de sol, Ronaldo Gomlevsky, candidato da oposição, optou por um estilo com bermuda de ciclista. Ficou algum tempo, mas saiu pedalando antes da chegada de Patricia Amorim. Quando a presidente apareceu deixou transparecer um sorriso amarelo com o ambiente. A dirigente decidirá em breve seu futuro político no clube, se tentará ou não a reeleição.
Alexandre Wrobel também marcou presença. O vice de patrimônio foi uma ideia de sucessão lançada por Patricia, caso ela desista do pleito. Mas, no começo da última semana, ao responder a um dos questionamentos sobre essa possibilidade, Wrobel deixou escapar que “seria candidato do Flamengo, não da Patricia”. A declaração gerou mal-estar, que já foi contornado.
Pouco antes de Patricia chegar à Gávea, o vice geral Hélio Ferraz, com uma bermuda florida, foi buscar Wallim Vasconcelos em um dos acessos ao campo. Helinho, que tem ajudado a atual presidente, mas não apoiará a situação nas eleições, fez questão de apresentar o candidato da oposição aos jornalistas presentes ao treino.
Recentemente, pessoas ligadas a Wallim chegaram a se reunir com Patricia Amorim para falar sobre eleição. Na conversa, disseram que fariam oposição à presidente, sem chance de aproximação, por causa de algumas pessoas que cercam a mandatária. Wallim tem como vice-geral de sua chapa o empresário Rodolfo Landim, ex-presidente da OGX, empresa do grupo de Eike Batista, e tem o apoio declarado de Zico.
Nem no treino consegue fazer gol"
Nunes, sobre jogador que chutara uma bola na trave no treino
Enquanto isso, Walter Oaquim vice de relações exteriores, foi até a sala de entrevistas da Gávea. Primeiro, o dirigente fez uma observação para os jornalistas:
- Viram como Adriano emagreceu?
Depois, disse que em breve o time contará com retorno de Renato, em recuperação de uma cirurgia no joelho direito. E sugeriu uma manchete para a imprensa:
- Adriano e Renato voltaram. Já pensou?!
Por fim, enquanto médicos e membros da comissão técnica têm extrema cautela em dar prazo para o retorno de Adriano, Oaquim bateu de primeira:
- Conversei com Adriano, ele disse que em duas semanas está em condição de jogar. Vai começar a treinar com bola na semana que vem.
O ex-centroavante Nunes também circulou pelo lugar e não perdoou quando viu um jogador finalizar uma bola na trave durante um simples rachão.
- Nem no treino consegue fazer gol – reclamou.
Dirigente pisa na bola
Vice-presidente social e administrativo da Gávea e com força política junto a Patricia, Cacau Cotta acompanhava o movimento atrás dos óculos escuros, sem muitos sorrisos. Cumprimentado pelo vice de finanças, Michel Levy, com quem não tem relação amena, Cacau mal esboçou reação. Já Levy foi para campo. Literalmente.
Enquanto o time disputava um rachão, Levy entrou na parte do gramado que estava vaga. Uma bola veio em sua direção, ele partiu, dominou mal, tentou sair jogando, mas quase tropeçou. Alguns dos presentes riram da cena. De calça jeans, o dirigente deu sequência a jogada e tentou dar um passe para Dorival Júnior, mas errou o lance. Depois de cumprimentar técnico e o diretor de futebol Zinho, o vice saiu de campo.
Presidente do Conselho Fiscal, Leonardo Ribeiro, o Capitão Leo, também esteve presente e conversou com Wallim. Michel Assef, pai e filho, e Lisyas Itapicuru, outro candidato da oposição, também circularam por perto do campo, e antigos conselheiros completaram o time.
Enquanto perto do campo sobravam dirigentes, o clube segue sem vice de futebol. Paulo Cesar Coutinho foi demitido na última quinta-feira e ainda não existe uma decisão sobre o substituto.
Alheio ao ambiente ao redor da mãe, Vitor, filho mais velho de Patricia Amorim, ensaiava o papel de fotógrafo e, com uma câmera profissional, fazia registros dos jogadores no treino. Já o foco na direção contrária ao campo mostrava que nem sempre o Flamengo sai bem na foto.
Fonte: globo.com
